segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A importância da comida...o prazer de compartilhar o amor por ela!




Sou de família italiana, então, como não poderia ser diferente, "lá em casa",
comer foi sempre muito mais que simplesmente comer.

Por muitos anos eu fui acordada aos domingos pela manhã com a cozinha "funcionando" a pleno vapor...a mesa coberta de farinha e massa fresca...uma panela de molho no fogo, que o nonno estava cozinhando desde as seis da manhã...hmmm, o cheiro de parmesão por toda a casa...ou às vezes, de pecorino..mas o pecorino nunca fez muito sucesso entre nós, "as crianças"...

Um dia era massa, no outro gnocchi..e aquela correria pra cozinhar tudo de uma só vez...8 mãos trabalhando juntas...todos pra mesa...atacar!!!

..."e tem mais uma forma de lazanha"..."espera que vou trazer a de carne"..."essa é sem ervilhas....o Duda não gosta...mas é ervilha fresca.."

Sempre igual, sempre maravilhoso...que saudades...

E somos italianos..mas somos muito brasileiros também...então, é claro: churrasco!!! E é aquela coisa: quem vai fazer a salada de batata, quem vai rechear o pão com alho...e passa o coraçãozinho e o salsichão primeiro...lá vem a picanha!!!

Comer, para nós, é um ritual...não é somente um levantar de garfos (mas sim, levantamos muitas e muitas vezes)...comer é um prazer, uma comunhão, é a partilha....compartilhar a comida e o amor por ela sempre esteve presente na minha vida. Dar prazer aos outros através da comida é uma das minhas maiores alegrias...

Pensar no que fazer no Natal, que sobremesa vai agradar a todos...fazê-los provar algo diferente ou fazer aquilo que eu sei que eles adoram...ir pra casa da minha dinda pra combinar o cardápio...ir para o Mercado Público com a minha mãe e a nossa lista de compras e passar o dia 24 de dezembro completamente atolada de trabalho e suando dentro da cozinha...me odiando a cada minuto por ter inventado de fazer tanta coisa...

Esse ano não vou, mais uma vez, passar o Natal em casa...mas é por um bom motivo.

E esse meu "bom motivo" é tão apaixonado por comida, quanto eu. Ele quase delira quando come um Ferrero Rocher...hmmm, la nocciola...hahaha....ele arregala os olhos como uma criança quando fala: "il polpettone..che buono che è il polpetone"..."hmmm, la burrata"..." il parmeggiano è geniale.."

Ele disse: "Quando chegarmos na Itália, a primeira coisa que vamos fazer é comer pizza...eu vou comer a de burrata...eu disse que eu também...e ele: então eu vou comer a de salsicha...e a gente divide, cada um come metade de cada".


Um dia, eu estava trabalhando e ele me mandou uma mensagem dizendo que estava fazendo uma surpresa pra mim...quando chega em casa, sou recebida pelo calor e o cheiro maravilhoso de um "ragù de una nonna"...que ele cozinhou por mais de 6 horas....simplesmente perfeito..de verdade, comida de vó!

Outro dia assei uma peça de presunto, e como somos só nós dois para comer, comecei a pensar no que fazer com aquele monte de carne...então,dei a idéia de fazer pastel de forno...ele abriu um sorriso, arregalou os olhos e disse: "si, con i piselli, funghi e il bechamèl"... O que mais eu quero da vida???

Mas sim, eu quero mais...quero o mesmo destino de Marlena de Blasi, a autora de "Mil dias em Veneza"...leram???

Se não leram e amam comida, histórias de amor e a Itália, corram agora pra comprar...O livro é uma delícia...leve, inspirador (tem as receitas de algumas delícias que ela prepara) e retrata um pouco da cultura italiana..a maneira como muitos vivem, se relacionam e, principalmente, comem!

Enfim, no final do livro (que tem continuação, "Mil dias na Toscana"), eles se mudam de Veneza para a Toscana, para morar em uma "villa" com 200 habitantes..entre campos de oliveiras e fontes de águas termais...com a idéia de transformar uma casa antiga em um pequena hospedagem, aonde os hóspedes podem jantar... Ainda não li a continuação e não sei se a idéia se concretizou, mas tenho certeza que valerá à pena pelos deliciosos relatos gastronômicos que ela faz muito bem.









Continuando a minha história...esse ano não passo o Natal com a minha família....mas tenho certeza que passarei com pessoas que também compartilham o amor pela comida!


Um dia, meses atrás, eu escrevi no twitter: "Quero um namorado para cozinhar para mim"... parece que alguém me ouviu :-)


Deixo vocês com algumas fotos de comidinhas simples e deliciosas que fizemos juntos...ou que ele fez pra mim, ou que eu fiz pra ele...









Beijos e vou pra cozinha fazer panquecas!!!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Julie & Julia - e o renascimento do meu amor


Confesso que há alguns meses venho me sentindo um pouco em "desamor" pela cozinha... Fiquei chateada e até preocupada em pensar que a minha paixão tinha acabado. Continuo trabalhando e sempre procuro fazer o melhor que eu posso, mas aquela "coisa", aquela loucura de estar sempre pensando em comida, sempre lendo e buscando coisas novas, sempre em torno do fogão, passou...

Ontem a noite, cheguei do trabalho cansada e de saco cheio da cozinha, mas, antes de dormir resolvi assistir o filme "Julie & Julia", com Meryl Streep interpretando a cozinheira americana Julia Child.

Julia Child foi responsável pela renovação do modo de cozinhar nos Estado Unidos e teve seu primeiro livro, Mastering the Art of French Cooking, publicado em 1961. Provavelmente muitos de vocês assistiram ao filme, e a quem não assistiu e gosta de cozinhar, eu digo: assita!!!

Durante o filme eu me dei conta de uma coisa: eu não deixei de amar a cozinha, eu enchi o saco foi do meu trabalho. Continuo apaixonada e encantada como sempre...amo cozinhar para pessoas queridas, adoro testar novas receitas..inventar...jogar tudo que "eu acredito" que combina pra dentro de uma panela e depois me surpreender com algo melhor do que eu imaginava.

Continuo preferindo passar duas horas fazendo compras num supermercado do que em uma loja de roupas..e olha que eu amo comprar roupas!!!

Sinto ainda com alegria a adrenalina que me envolve em um dia de movimento...quando trabalhamos em sintonia, como peças de uma mesma máquina...

Continuo sonhando em ter meu próprio negócio... o qual, é verdade, muda de nome e de estilo a cada 3 meses... Passou de um restaurante à um café e de um café a algo que eu não sei como chamar, mas sei que existe... Quando eu amadurecer melhor a idéia, volto aqui pra contar.

O que aconteceu entre mim e o The Wet Fish foi uma espécie de "desgate na relação"..que nem acontece com muitos casais.

Por vários motivos, que não cabem aqui (afinal não quero cuspir no prato que ainda como ), a minha paixão se foi...E hoje, eu muito felizmente, me dou conta, de que não tem nada a ver com a paixão pela cozinha, pelo ato de cozinhar...de passar horas planejando o que fazer para determinadas situações, horas escolhendo os melhores ingredientes e depois mais horas e horas descascando, cortando, salteando, assando.... Eu amo tudo isso e ainda me emociono quando faço algo que nunca fiz e esse algo fica perfeito. Fico toda boba e cheia de satisfação quando dou prazer aos outros através das coisas que cozinho..Esse amor nunca vai terminar..

Agora, só preciso de um pouco de ar...ou melhor, preciso respirar novos ares, novos sabores...uma nova cultura... Itália???

domingo, 24 de outubro de 2010

Três anos de cozinha..o que aprendi, o que desaprendi....o que mudou!


Agora, em novembro, fará 3 anos que trabalho como cozinheira...parece que foi ontem e ao mesmo tempo parece que faz uma eternidade que entrei na cozinha do Bistrô da Rua pela primeira vez. Primeira tarefa: descascar batatas..segunda tarefa: limpar a geladeira...acho que vou lembrar pra sempre.

Nesses 3 anos aprendi muito...mas hoje não quero escrever sobre o que aprendi em termos de técnicas ou como venho aprimorando meus conhecimentos...Hoje, quero falar do que aprendi sobre mim mesma, de como mudei minha maneira de ver as coisas e as pessoas e como isso afetou e vem afetando meus últimos meses no The Wet Fish Cafe.

Desde pequena, eu sempre gostei de mandar..sempre gostei de dar as regras do jogo, de inventar as brincadeiras, de decidir quem ia brincar com a Barbie loira e quem ia brincar com a morena, de quem ia ser a polícia e quem ia ser o ladrão.

Talvez, por eu ser a mais velha dentre meus irmãos e primos, isso nunca foi um problema..era natural que eu ditasse as regras.

Na cozinha, percebi que mandar era muito bom...muito melhor do que ser mandada...Claro, no começo ouvir as ordens era uma benção, já que eu não sabia muito o que devia ser feito...mas, depois de um tempo, comecei a ter mais confiança, e cada vez que recebíamos um estagiário eu ficava toda "boba", pois sabia que poderia dizer a alguém o que fazer...é uma bobagem, claro, mas dá uma sensação de "importância".

Confesso, com um pouco de vergonha, que eu adorava fazer o papel de megera...e segui nesse papel por bastante tempo. Não me importava em apontar os erros e as mancadas dos outros (agora, com bastante vergonha) e não me sentia nem um pouco mal se precisava xingar ou dar uma repreendida um pouco mais rude. Continuei assim por um bom tempo, no Bistro e também no The Wet Fish...tive desavenças com algumas pessoas (e inclusive escrevi aqui no blog) e nunca me importei se alguém não gostava de mim..eu estava ali para fazer o meu trabalho da melhor maneira possível e quem estivesse na minha frente para atrapalhar, era devidamente "varrido" para fora...

Quando tudo mudou? hmmm, provavelmente quando eu recebi todo o "poder" para mandar e desmandar: quando assumi a cozinha como "head-chef".

Nesse mesmo período eu me separei do meu ex-marido, e talvez, naquele momento eu estava precisando mais de amigos do que de funcionários...acabou que eu me tornei tão próxima e tão amiga de todos eles que não consegui mais ser "chefe"... muitas vezes eu via as coisas erradas mas não queria chateá-los, não me sentia bem para repreender e dizer que o que eles estavam fazendo era errado.

Fui deixando tudo correr solto demais e quando tentei reverter a situação, já era tarde. Hoje, tenho amigos, a cozinha está a "deus dará" e eu preciso colocar tudo no lugar antes de ir embora no final do ano.

Antes, as pessoas que vinham para fazer testes iam embora me odiando...semana passada, uma menina me abraçou e me beijou antes de ir embora... como foi que mudei tanto?

Por que é tão difícil encontrar o equilíbrio? Como se faz para que todos façam aquilo que tu queres mas ao mesmo tempo não te odeiem?

Aprendi que é difícil, muito difícil ser "o chefe" e que ainda preciso aprender muito. Mas a experiência foi válida...da próxima vez espero não errar tanto...

domingo, 3 de outubro de 2010

É importante reconhecer a hora de partir...


Woowww..quase 4 meses depois, cá estou eu de volta. Digamos que passei por alguns momentos de baixa inspiração e não quis vir aqui sem ter nada pra contar.

E agora, venho pra dizer que minha vida no The Wet Fish Cafe está com os dias contados.

Depois de muito pensar e repensar cheguei a conclusão que saber a hora de partir também é muito importante.

Eu aprendi muito e cresci muito profissionalmente durante esse mais de um ano e meio que passei por aqui, mas agora preciso de mais. Já dei a eles tudo o que eu tinha, tudo o que eu sabia..agora sinto que ando em volta, sempre de um lado para o outro, com mas mesmas coisas de sempre.

Eu preciso ver coisas novas, ver novos chefs trabalhando, vivenciar outros estilos, outras maneiras, outras culturas..preciso renovar a minha bagagem..não só renovar, mas fazer um "up grade"... Afinal, eu também não tenho tanta experiência assim. Desde que comecei meu primeiro curso de gastronomia, só se passaram 3 anos e alguns meses...por sorte (e também muita dedicação) consegui "subir" rápido, mas sinto que é hora de ir uns degraus abaixo para aprender um pouco mais.

Queria ir para uma cozinha grande, daquelas de filme, onde cada um fica numa seção..onde alguém vai gritar comigo e me dar uns xingões, hehehe...onde eu vou ter que reaprender a engolir sapos e ficar quieta quando alguém quiser me ensinar como fazer arroz..onde eu não vou participar das reuniões nem tomar decisões importantes...mas é disso que eu preciso, de novos desafios, de coisas à alcançar, de objetivos, do tipo: quero ser a sous-chef dessa cozinha... quero mais, quero ajudar a fazer o menu...

Eu preciso disso..por mais que eu ame meu trabalho, e amo muito, preciso de ter ambições, senão, com o passar do tempo, tudo fica meio chato e sem graça, sem grandes emoções.

Então, acredito que um pouco antes do Natal, eu vou em busca de um outro fogão..aonde ainda não sei, mas o mundo tá aí, cheio de cozinhas...e como diz meu "muso" Daniel Boulud, um chef pode trabalhar em qualquer lugar, pode colocar seu estojo de facas embaixo do braço e sair mundo à fora.

Com certeza vou sentir muitas saudades dessa minha cozinha, dessa família de malucos que tenho aqui em Londres...um polonês, Marcin, que gosta de ser chamado de "Polaco Primitivo" (apelido que ganhou do grego). Se faz de durão e quer que todos pensem que ele é do mal, mas no fundo tem um coração mole...Fala "kurwa"(puta em polonês) de 5 em 10 palavras...nas outra 5 ele fala "fucking". Mesmo assim, é o meu braço direito. O grego, Pavlos, acabou se tornando um dos meus melhores amigos e vai ser, com certeza, um dos que mais vou sentir falta. Ele é o kp (que lava as louças), mas digamos que a principal função dele naquela cozinha seja a de nos fazer felizes. Tem também o Andrew, o jamaicano, que está sempre disposto a me ouvir e a me dar conselhos do bem. Junto com o grego, faz o "shift" mais divertido da história, daqueles de chorar de rir..de quase fazer xixi nas calças de tanto gargalhar das besteiras que eles falam. Se tornou um grande amigo, a ponto da mulher dele me ligar pra me avisar que não quer essa amizade.." fui bem clara?" Santa paciência!
E, finalmente, temos o Wesley, o sul-africano..calmo, tranquilo..canta ópera e dança na cozinha. Quando eu deixo ele comer uma sobremesa, dança com movimentos obcenos...lava as mãos mais do que o necessário e gasta todo o rolo de papel toalha....é daqueles que quando a gente fala pra pedir ou explicar alguma coisa, fica o tempo todo dizendo: yeah, yeah, yeah, yeah...hehehe..provavelmente não ouve metade do que eu digo, mas mesmo assim se puxa..sabe como combinar sabores e tem um ótimo gosto para as apresentações.

Com certeza vou sentir muita falta dos "meus meninos"...que às vezes parecem meus filhos, disputando atenção e ficando com ciúmes quando eu defendo mais 'esse ou aquele"...e as mulheres que já trabalharam comigo na cozinha que me desculpem, mas trabalhar com homens e muito mais divertido.

Vou com a sensação de missão cumprida. Dei o melhor de mim e fico muito feliz pelos resultados que tivemos...agora, como sinto que não posso dar mais o meu melhor, é hora de partir.


terça-feira, 15 de junho de 2010

Ottolenghi, o lugar que eu "quero ser quando crescer"

Sexta passada fui, por indicação de uma amiga, a um "restaurante" chamado Ottolenghi. Coloquei restaurante entre aspas pois não é um lugar muito tradicional..por exemplo, em um das quatro lojas, eles não tem cadeiras nem mesas para as pessoas sentarem. Ou seja, é um lugar onde se faz comida boa, fresca, de qualidade, doces maravilhosos... e cada um faz o que quiser com eles: ou leva pra casa, ou senta na calçada pra comer, ou escolhe uma loja onde existem alguns assentos disponíveis. Eu fui à loja de Notting Hill e lá eles tem uma grande mesa, onde podem-se sentar 10 pessoas. Só. Eu decidi esperar pra sentar.


Primeiramente, demorei um pouco para encontrar o local. Desci na estação de Notting Hill e me deixei perder por aquele bairro tão charmoso, o qual eu ainda não conhecia direito. Andei uns quinze minutos muito prazeirosos até encontrar o Ottolengui.



Logo na entrada, me deparei com muitos doces lindos e já fiquei pensando em qual deles iria comer de sobremesa...nhmmm, que delícia..bolinho de limão, cookies, merengues, panelinhas de frutas vermelhas, cheesecake...difícil escolher.



Resolvi deixar essa árdua tarefa pra depois e fui em direção às saladas. Pelo que eu pude perceber (no "calor" do meu entusiasmo diante te tudo que vi) eles só servem pratos frios. Ou melhor, tudo está exposto lindamente no "buffet", mas é tudo frio...E, se alguém quiser que aqueça algo, eles aquecem (vi meu "vizinho de mesa" pedir pra aquecer a lazanha...tb, lazanha não dá pra comer fria, né).

Eu estava mais pelo lado natural da coisa e resolvi ficar nos pratos frios. Quando sentei na mesa comunitária (que aqui é chique), a moça que me atendeu me entregou um cardápio com todas as opções de saladas e todas as opções de pratos principais.




Eu escolhi um principal (salmão grelhado com molho de abacate, chilli, cebola roxa e ceboullete) e duas saladas (uma era vagem com bulbo de erva doce, sementes de mustarda e cebola roxa e a outra era pêssegos grelhados com muzzarela de buffala, castanha de caju e vinagrete de romã)


Tava tudo uma delícia..fresco, crocante, macio, picante, suculento..adorei! Enquanto comia já estava pensando em tudo que queria escrever aqui no blog..e também mandando um email pra minha mãe pra avisar que tinha encontrado um outro restaurante que ela ia adorar.
Quando eu estava terminando, meus vizinhos de mesa receberam os seus pratos e só o que se ouvia era, nhummm, que delícia, deixa eu provar o teu, nossa, muito bom, prova esse, prova aquele...ou seja, uma experiência deliciosa para quem gosta de comer bem e de maneira saudável.
Eu já estava satisfeita, feliz e contente com meu almoço, mas obviamente não iria embora sem provar um daqueles doces que tinha visto quando cheguei. Como eu tinha "economizado" calorias no prato principal, resolvi enfiar o "pé na jaca" com a sobremesa. Pedi logo o mais "gordinho" de todos: cheesecake com macadamias e calda de caramelo.
Quando minha sobremesa chegou, meus vizinhos babaram por ela: Oh my god!!!


Mas, a verdade, sinto dizer, é que ela nem estava tão boa assim..ou talvez eu é que já estivesse super satisfeita e sem vontade. Era boa, claro, mas eu deixei um pedaço...e quem me conhece sabe, eu nunca deixo a sobremesa.
Enfim, valeu muito a pena. Não só pelo prazer de comer, mas também pela inspiração. Tudo no Ottolenghi é tão lindo, tão bem apresentado e convidativo que saí de lá cheia de idéias.
Quem me dera se um dia eu pudesse abrir um negócio assim, com esse tipo de comida, para este público...saí de lá feliz e com um livro do Ottolenghi de baixo do braço. Em setembro volto lá com a minha mãe.
Aqui vai o site, pra quem vier a Londres...
http://www.ottolenghi.co.uk/locations/

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Do simples às "passarelas gastronômicas"

Ontem saímos para jantar e fomos em um restaurante pequeno mas muito charmoso aqui perto de casa, em Bermondsey. Fomos por indicação de um amigo ao "Simplicity" e só por indicação é possível de se descobrir esse lugarzinho aconchegante, com boa música, bons vinhos (não que eu entenda muito, mas bebi o melhor pinot grigio da minha vida..se é que já bebi algum outro, mas enfim) e muito boa comida.
O nome já deixa claro o estilo de lugar. Comida simples! Uma delícia, tudo muito bem feito e muito bem apresentando. Eu que sou uma chata de carteirinha, não consegui colocar defeito em nada..não que eu saia por aí procurando erros nas cozinhas alheias, mas fico muito feliz quando saio satisfeita de um lugar, sem o pensamento de "eu teria feito melhor".
Falando nisso, acho que antes de entrar nessa profissão eu era feliz (como comensal) e não sabia...ou talvez fosse infeliz, não sei..O que sei é que eu gostava de quase toda comida que comia. Achava que tudo era sempre bem feito..e melhor, tudo me surpreendia. Eu sempre saía dos restaurante pensando: como será que eles fizeram aquele doce? O que foi que colocaram naquele molho? Pois bem, isso tudo acabou e, não sei se é bom ou se é ruim, mas é muito chato não ser surpreendido. É muito entediante pedir um prato e saber exatamente o gosto que vai ter. Pior ainda é pedir uma carne com "ponto médio" e receber ela seca e dura. Como era bom antes, quando eu nem sabia a diferença entre um ponto e outro..ou melhor, quando eu comia carne bem passada e achava boa.
Por (in)felizmente eu perceber a diferença entre uma comida bem feita e outra mal feita é que digo e indico: quem mora em Londres deve ir ao Simplicity! Acho que o restaurante está ganhando certa notoriedade por ter sido muito bem indicado pelo Gordon Ramsay. Não que eu ache ele o chef dos chef´s, mas alguma autoridade ele tem por aqui.
Pois bem, ontem fomos jantar e eu saí de lá mais do que satisfeita. Meu pedido foi um robalo com pesto, batatas sautè e legumes..tudo simples, muito simples, tradicional até. Mas tudo muito bem feito. O peixe era inteiro e foi cozido (assado) no tempo certo e estava fresquíssimo. Os legumes, cenoura, abobrinha e couve, mais populares impossível, estavam deliciosos..no ponto, não cozidos demais nem de menos. Das batatas nem vou falar, porque quem não sabe fazer uma batatinha gostosa tem que tirar seu avental e ir embora.
De sobremesa pedi um bolo de cereja e amêndoas com sorvete de baunilha. O bolo era quase um marzipan..delicioso. Quentinho, molhadinho e ficou perfeito com o sorvete de baunilha.
Aliás, o Simplicity tem exatamente o mesmo estilo do "meu" restaurante, o The Wet Fish Cafe. Comida simples, muito bem feita e muito bem apresentada. Exatamente o que o Andre (dono do restaurante) chama de "modern comfort food". Lá não congelado nada, temos só um freezer pequeno aonde ficam os sorvetes (feitos por nós) e algumas coisas que já vem congeladas, como as ervilhas frescas. Fora isso, nada se congela. Recebemos peixe e legumes todos os dias, carne três vezes por semana. Fazemos o mise-in-place todo em pequenas quantidades, e por isso estamos sempre correndo em função disso. Ás vezes, nove da noite, acaba um determinado tipo de peixe. Só nos resta nos desculpar com o cliente, mas não temos estoque congelado. O que acabou, acabou. E sinceramente, nunca tivemos problemas com isso. Nunca, nenhum cliente reclamou (e olha que eles são chatos) por termos terminado com algum prato no meio da noite. Acho que eles estão bem conscientes aqui, é o preço que se paga por ingredientes frescos e selecionados.
Eu, que até então estava indecisa sobre qual seria o meu próprio estilo, acho que me decidi. Comida simples, bem feita, com ingredientes frescos, os melhores que eu puder achar...
Nada contra Ferran Adrià e às suas experiências, bem pelo contrário.. mas eu prefiro comida com cara de comida. Tanto pra fazer, quanto pra comer...talvez risotos em forma de espuma, tomate desconstruído e depois contruído de novo com forma e gosto de tomate (ou de qualquer outra coisa que se possa imaginar) sejam interessantes pra inspirar,criar uma tendência, dar idéias.. vejo a Cozinha Molecular como um defile de moda: ninguém usa aquilo que está nas passarelas. Daquilo se tiram idéias para se fazer roupas normais, para pessoas normais usarem no dia a dia. Acredito que o mesmo se possa fazer em relação à gastronomia.
Obviamente se me convidarem (e pagarem) para um jantar no El Bulli eu não penso meio segundo, vou correndo. Mas, se eu tiver que cozinhar, prefiro que seja aqui, na minha cozinha minúscula, com meu fogão de 4 bocas, onde muitas vezes tenho que fazer mágica pra ser uma mesa de 12 pessoas, mas aonde sou feliz.










E fica a dica: veio pra Londres, passa no Simplicity http://www.simplicityrestaurants.com/
Claro, tendo passado antes do "THE WET FISH CAFE" www.thewetfishcafe.co.uk

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Petit Gateau e outras reclamações..e algumas sugestões!


Quase um mês depois, cá estou eu novamente..diretamente do Brasil, do sofá da sala da minha mãe! Coisa boa, nada como estar em casa...E agora é esse justamente o problema: aonde é a MINHA casa?
Estou aqui, estou feliz, mas sinto que minha vida está lá em Londres. Quando estou lá, estou feliz, mas sinto que parte do meu "coração" está aqui, no Brasil..
Quando acho que minhas inquietações acabaram, elas voltam, só pra me lembrar que, na verdade, sempre estiveram por perto.
Mas enfim, estes são meu últimos dias por aqui e o que posso dizer é que estou feliz. Passei um mês muito, muito bom ao lado das pessoas que eu amo e agora estou pronta, de baterias recarregadas pra voltar para a minha "outra vida", para a minha casa de lá. Para a minha cozinha.
Outro dia eu estava conversando com um amigo meu, que também é cozinheiro, sobre o quanto vale a pena ir morar fora. Não só na nossa profissão, mas acho que é algo interessante para todo mundo. É muito bom "ampliar o ângulo de visão", ver tudo sob uma nova perspectiva, sob o olhar "do outro". Pra quem trabalha na cozinha isso é muito importante. Lá, onde vivem pessoas de tudo que é parte do mundo, a gente tem a possibilidade de entrar em contato com muita comida diferente, com influências muito diferentes das que temos aqui. Sabores, combinações, composições...E quanto mais se vê, mais se prova, mais se aumenta a vivência, que é tão importante para um cozinheiro. Na hora de criar um prato, o leque de opções é muito maior. Eu não invento nada mirabolante, as coisas que crio são baseadas em coisas que já vi, senti, que já provei, já vivenciei.
Ficando sempre por aqui, a pessoa acaba não tendo essa amplitude. Fica difícil aumentar, digamos assim, " o repertório", quando se fica sempre no mesmo lugar.
No Brasil, principalmente no Sul, temos uma visão muito fechada, muito tradicional quando o assunto é comida.
Aqui mesmo, na minha casa, cada vez que tento fazer algo novo é uma briga. Eles sempre querem o de sempre: massa, pizza, carne,mousse de chocolate...Com o Adriano é a mesma coisa, não come nada que não saiba absolutamnte o gosto que tem. Não quer nem provar!!! Ou seja, coisas novas nem pensar..somente aquilo que já conhece desde que nasceu! Santa paciência, pra mim é completamente broxante.
Aqui, quem trabalha em restaurante sabe, não adianta querer variar muito, se tu não oferecer o de sempre (filé com molho disso, filé com molho daquilo, salmão com batata sauté, fettuccine aos quatro queijos, petit gateau de chocolate), perde a freguesia.
Por falar no (maldito) petit gateau de chocolate...eu tenho uma bronca desse negócio. Coisa chata, sem graça, enjoativa e fora de moda..mas não adianta, todos querem. Até lá em Londres, tentamos tirar do cardápio (porque nós, da cozinha, não aguentávamos mais olhar pra cara do tal do bolinho) mas não deu certo..depois de muito chororô por parte dos clientes, tivemos que colocá-lo de volta.
Gente, please, abram a mente..existem outras coisas que queremos mostrar e servir pra vocês. Outras sobremesas que são tão boas ou melhores que o petit gateau. Nos dêem a chance de criar, de inventar, de ousar...esqueçam desse bolo xarope e do tal do filé com molho madeira.
Mas calma, não estou falando que coisas tradicionais não sejam boas. Elas são ótimas e nos trazem sempre aquela sensação de conforto. Pra mim, por exemplo, não há nada mais "aconchegante" do que comer a massa feito em casa da minha mãe. Só o preparo já é um prazer, um retorno aos momentos de anos atrás, quando acordávamos no domingo e a mesa já estava cheia de massa secando, quase pronta pra ir pra panela. E então meu nonno vinha com aquele molho maravilhoso, que ele já estava cozinhando desde as seis da manhã...Molho de tomate, bem tradicional, delicioso! Aliás, nunca mais comi um molho tão gostoso quanto o que ele fazia.

Por hoje, fico por aqui. Deixo vocês com a foto da massa da minha mãe e com a idéia de sempre ir em busca de algo novo, de coisas que ainda não se viu, não se provou..isso alimenta a alma!
Beijos!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Brazilian Night no THE WET FISH CAFE, as fotos!






















Acabei de chegar em casa..o noite foi ótima e fiquei muito feliz com o resultado dos pratos. A "moqueca" e o "petit gateau de goiabada com veloutè de queijo" foram os que fizeram mais sucesso. Vou colocar as fotos na sequência de baixo pra cima: Mini bobó de camarão, Feijão tropeiro (entradas), Moqueca, Risoto de moranga com charque (principais) e Banana assada no mel com sorbet de açaí, Petit gateau de goiabada com velouté de queijo (sobremesas)






domingo, 7 de março de 2010

Brazilian Night no THE WET FISH CAFE - o cardápio


Depois de muito adiarmos, a nossa noite de música e comida brasileira vai acontecer no restaurante onde eu trabalho, o The Wet Fish Cafe.

Vai ser dia 15 de março, na outra segunda..tô super feliz e ansiosa! No mesmo dia que mandamos os emails anunciando a noite, os ingressos se esgotaram.

O mais legal de tudo é que quem vai tocar é o meu amore, o Adriano! Vai ser a primeira vez que vamos unir os nossos "talentos" e eu to super feliz que isso vai acontecer.

Já fiz o cardápio há quase um mês atrás. Desde o dia que decidimos a data, eu comecei a pensar no que eu gostaria de fazer, no que gostaria de servir. Fiquei em dúvida entre servir algo bem clássico, ou algo com ingredientes brasileiros, mas mais moderno...

Daí pensei..é claro que a nossa cozinha é maravilhosa, nossos pratos tradicionais como feijoada, moqueca, etc..são todos uma delícia..nossas sobremesas mega doces são as minha preferidas...ambrosia, pudim, brigadeiro, nhammmm....Mas, isso tudo é facilmente encontrado aqui em Londres em qualquer restaurante brasileiro.

Além disso, o The Wet Fish Cafe se caracteriza por não ser clássico..não fazemos nada muito tradicional. Fazemos uma comida simples, fresca, mas moderna...claro, sempre respeitando os princípios clássicos, mas sempre com alguma novidade.

Eu tava deitada na cama, tentando dormir, quando o menu se formou na minha cabeça...aliás, é assim que eu tenho as idéia mais legais..o mesmo aconteceu com o aligot (por falar nisso, o nosso "cheesy mash" vai entrar pro menu de primavera). Enfim, pulei da cama e fui escrever o cardápio..aqui vai ele, com muito carinho e com esperança de agradar a todos!

Depois do dia 15 eu coloco as fotos!!!


Entradas:

- Feijão tropeiro com vinagrete

- Mini bobó de camarão


Principais:

- Risoto de charque e moranga assada

- Moqueca (ok, um clássico tem que ter, mesmo porque eles amam moqueca)


Sobremesas:

- Banana assada com mel, sorbet de açaí e farofa de paçoquinha

- Petit-gateau de goiabada com veloute de queijo (Romeu e Julieta)



Gostaram?

Beijossssss

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O cliente tem sempre razão...


Será? Olha, acho que não concordo muito com isso não. Acho que o cliente tem razão, quando tem razão..mas SEMPRE é muito abuso.

Eu, como cliente, nunca fui abusada, nunca destratei ninguém nem agi como se "pudesse tudo" só porque estou pagando. Pelo contrário, sempre me coloquei do outro lado, do lado de quem está atendendo, servindo, cozinhando.

É claro que todos têm o direito de reclamar quando algo não é bem feito, ou de exigir que o serviço seja feito com qualidade, ainda mais quando se paga um alto preço por isso.

Mas não é a isso que me refiro. A minha bronca é com aqueles clientes que abusam desse "poder" e extrapolam. Já no Brasil isso me incomodava. Mas aqui em Londres isso é ainda pior. Não sei se é só no restaurante onde trabalho (que permite que eles sejam assim) ou se é algo geral, mas os clientes aqui são muito abusados.

Por exemplo, domingo passado foi Valentine´s Day (dia dos namorados) e elaboramos um cardápio especial para a data. O cardápio era composto por 3 diferentes pratos principais: um peixe, um cordeiro e um risoto. Recebemos uma ordem com dois peixes. Tudo certo, mandamos pro salão. Meio minuto depois o garçom volta e diz que o cliente "se confundiu" e pediu errado. O cliente, amado, não queria o peixe, ele queria o cordeiro.

E aí? o que fazer? Obviamente não vamos criar um climão em pleno Valentine´s Day e dizer pro cliente que se ele pediu errado, o problema é dele. Lá fomos nós fazer o cordeiro pro cliente querido.

E detalhe, isso aconteceu duas vezes na noite. Ou seja, eles erram e nós que temos que pagar? Eles se confudem e nós temos que jogar fora todo um prato e interromper o serviço (que estava indo perfeitamente bem) para refazer o pedido? Sinceramente? Não acho certo.

E, se eu fosse cliente (como muitas vezes sou) e pedisse algo por engano, ia até ficar chateada por comer algo que não estava nos meus planos, mas com certeza não teria a cara de pau de pedir pra trocar.

Acho isso um abuso e se um dia eu tiver meu próprio restaurante, não vou aceitar esse tipo de coisa. Claro, talvez sendo eu a dona, meu pensamento mude. É muito mais "negócio" jogar um prato de comida fora do que perder um cliente. Mas eu me incomodo não só por desperdiçar comida, ou por interromper o andamento do serviço, eu me incomodo por ter que aceitar esse tipo de coisa.

Outra coisa que me incomoda muito, e essa muitas vezes não aceito, é aquele cliente que pede "o filé, com as batatas que acompanham o peixe, com o molho do frango, mas sem creme de leite..ah, e dá pra colocar um pouquinho de arroz extra, por favor?"

Por favor digo eu! Não, não dá! E se quiser arroz, vamos cobrar uma porção extra!

Minha cozinha não é a casa da mãe Joana, onde cada um cria seu próprio prato e muda meu cardápio ao seu bel prazer. Alguma alteração pode até ser aceita, mas tudo tem limite. Por acaso está escrito no fachada do restaurante: Seja chef por um dia, monte seu próprio prato?

Não, não está escrito, então não inventa!

Ás vezes as trocas que eles pedem são tão terríveis e dariam num resultado tão desastroso que dá vontade de fazer, só por maldade, só pra eles aprenderem a não "inventar moda".

Aliás, a idéia de escrever esse post surgiu agora a pouco, depois que eu li o último texto que a Roberta Sudbrack postou no seu blog. Entre outras verdades, ela fala o seguinte:


"Não há como negar que nós, os cozinheiros, somos um pouco temperamentais demais, um pouco vaidosos demais, um pouco ditadores demais. Apegados demais às nossas receitas. Trocar batatinhas por um arrozinho pode não ser uma boa ideia. Dependendo do momento pode ser perigoso!"


Então, tentando não ser tão ditadora, eu até aceito, ás vezes, que me peçam alguma alteração, mas o bom senso tem que vir de ambas as partes...e o respeito também. Acho que isso está faltando por aqui, pricipalmente por parte dos comensais.




E a fotinho, e o Peach Melba com anglaise de pistache, que foi uma das sobremesas do Valentine´s Day!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Supper club, o cardápio!









Aqui vão as fotos e o cardápio do evento de ontem, Supper Club. Eu tinha escrito que a carne seria avestruz, mas o nosso fornecedor não conseguiu a quantidade necessária, então tivemos que mudar para filé! O cardápio foi elaborado para parear com vinho sicilianos, da Villa Tonino.


Crab w avocado, chilli & red pepper essence
Grillo, Villa Tonino, 2008, Sicily (13% vol) 100ml


Beef fillet w aligot, sprouting broccoli & pink peppercorn jus
"Blaglio Curatolo" Nero d´Avola, Villa Tonino, 2006, Sicily (13,5% vol) 125ml


Almond tart w raspberries & marsala mascarpone
NV Marsala Riserva Superiore, Villa Tonino, Sicily (18% vol) 50ml




Aligot, a saga!
















" Aligot é um prato tradicionalmente feito no sul de Auvergne (Aveyron, Cantal e Lozère) região da França feito de queijo Tomme derretido e misturado com purê de batatas, muitas vezes com alho. Na França, por vezes, uma grande quantidade é feita em uma panela grande e é vendida fresca para os que gostariam de comprá-lo no mercado.
Este prato foi originalmente feito de pão por
monges que o prepararam para os peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, mas as batatas foram substituídos após a sua introdução para a França, porque eles permitiram que uma consistência mais desejável".
Pois bem, na última sexta-feira de noite, estava eu na cama, tentando dormir, quando comecei a pensar no cardápio que faríamos na segunda (ontem), no nosso evento mensal chamado "Supper Club". A carne já estava decidida..seria avestruz. Precisávamos só de um acompanhamento com um preço regular, mas nem por isso desinteressante. Fui pra internet pesquisar...não lembro exatamente como, a idéia do aligot surgiu na minha cabeça.
Claro que eu já tinha lido e ouvido falar sobre ele, mas até então nunca tinha feito. Achei um vídeo o Alex Atala mostrando como se fazia..e dizendo que não era esse bicho de sete cabeças que todo mundo fala. Realmente, o prato é simples: purê de batatas com queijo...quer coisa mais fácil?
O único "inconveniente" disso tudo, foi que eu resolvi fazer o aligot sem levar em consideração que o jantar seria para 40 pessoas..ou seja, a panelinha que o Atala mostra no vídeo, foi substituida por duas panelas gigantes...e o trabalho que parecia simples, me tomou quase 4 horas e muita, muita energia.
Lá fui eu cozinhar 10 kg de batata (sim, nós duas, eu e a Amy, erramos no cálculo e fizemos aligot para 80 pessoas). Depois descascá-las quentes..até aí tudo bem...chato, mas fácil...O problema começou na hora de fazer o purê..e detalhe, não pode ser um purê qualquer...tem que ser um purê perfeito e cremoso, sem nenhum pedaço de batata.
Amassei, amassei, amassei e amassei..depois coloquei na batedeira..bati, bati, bati, bati...Foi pra panela...Comecei a mexer (10 kg de batata) e como estava muito pesado, dividimos em dois...mexe aqui, mexe ali...não, mas não estava bom..ainda estava com bolinhas...
Tirei do fogo e tentei acabar com as bolinhas com o mixer...tava dando certo, mas muito demorado...a idéia boa chegou e colocamos no processador...pronto, ficou perfeito, macio e cremoso...e volta pro fogão, volta pra duas panelas..
Ô bagunça, ô sujeira...mas tava dando certo. Começamos a colocar o queijo..e mexe, mexe, mexe...Olha, deu trabalho..mas deu certo! Na hora que comecei a "brincar" com ele para dar elasticidade, me senti uma criança, de tão feliz e emocionada, passando o aligot de uma colher para a outra.
Foi muito cansativo, mas valeu a pena..o aligot ficou uma delícia e foi a estrela da noite...era só o que se falava no salão.."O que é esse aligot?"alguns vieram perguntar. Eu estava abrindo a boca pra dizer: é só purê de batata e queijo...mas a Amy, sabiamente, me interrompeu e disse: é segredo, e muito trabalho..levou 5 horas pra ficar pronto!
Tá certa ela, depois de tanto suor, não vale transforma-lo em algo simples..apesar de ser!
Nas fotos ali de cima vocês podem ver o trabalhinho que deu..e na primeira foto, eu feliz, "brincando" com ele.
Na verdade, o jantar inteiro foi um sucesso, vou fazer um novo post com o cardápio e as fotos dos pratos..
E, quem quiser se aventurar, o link do vídeo do mestre Alex Atala é esse aqui:
Mas já aviso: "Crianças, não tentem fazer isso em casa" , ou pelo menos não para 40 pessoas!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Tudo ao seu tempo


Na cozinha, paciência é uma virtude. Claro, não só na cozinha. Na vida! Mas falo da cozinha pois é dentro dela que mais aprendo.

Por mais que tenhamos vontade, por mais que tenhamos energia e "sede" daquilo tudo...mesmo assim, temos que esperar a nossa vez. Para alguns a espera não é grande, mas se a espera não foi grande, é porque o trabalho foi intenso. Sorte? Talvez... É bom estar no lugar certo, na hora certa..mas nada disso adianta se não fizermos "a coisa certa". E dentro da cozinha, no início, a coisa certa é ralar, ralar, ouvir, ralar mais um pouco, ouvir muito e limpar muita geladeira. Até que um dia, algum (ou muito) tempo depois, alguém vai te pedir um palpite, uma idéia para um cardápio, uma sugestão do dia.

Claro, isso tudo depende do chef e do tamanho da cozinha. Eu tive a sorte de trabalhar em cozinhas pequenas e com chefs maravilhosos que sempre me deram a oportunidade de "abrir a boca". Obviamente isso não veio de graça. Nada vem de graça, tudo se conquista. Mas mesmo assim, mesmo sabendo que eu não estava trabalhando com "ditadores", eu esperei.

Esperei o momento certo, respeitei, ouvi e só comecei a falar a partir do momento que alguém perguntou a minha opinião. A partir do momento que eu percebi que já era merecedora daquilo tudo. Também nunca dei uma opinião baseada em nada. Sempre li, pesquisei e busquei (e continuo buscando) aprender mais e mais. Aprender é o que há de melhor e é uma das coisas que mais me motiva no dia-a-dia.

Mas to escrevendo tudo isso por causa de algo que aconteceu uns meses atrás. Agora, que a ira já foi embora, consigo enxergar as coisas mais claramente e mesmo assim, eu acho que estava certa.

Pra resumir a história...contratamos para a cozinha um "kp" (kitchen porter = pessoa que lava a louça). Quando ele veio para a entrevista, disse que adorava cozinhar, que era apaixonado por gastronomia e tal. Isso pareceu um ponto positivo, pois é sempre melhor trabalhar com pessoas que gostam ou tem interesse naquilo que estão fazendo.

No primeiro dia tudo correu tranquilamente. De vez em quando ele fazia algumas perguntas: "como isso era feito", "que gosto tinha aquilo", "me passa a receita daquele outro". Um pouco inconveniente em certos momentos, mas nada grave, afinal ele já tinha dito que adorava comida..enfim, o rapaz estava "empolgado" de estar dentro de uma cozinha..tudo bem, tolerável.

Pra completar, a "figura" era brasileiro, então, no segundo ou terceiro dia ele já começou a "sugerir" que eu fizesse tal e tal doce "da terrinha" ...Não sou muito favorável a sugestões de quem acabou de chegar, mas tudo bem..dei um desconto, afinal ele só estava querendo "ajudar". Até que, no domingo seguinte (com menos de uma semana de trabalho), o cara chega todo faceiro pra mim e lança a seguinte frase: Oi Camila, tudo bem? Tenho algumas sugestões pra tu colocar nos especiais de hoje a noite!

Que? Sorry...Excuse me...Como assim? Até hoje fico meio irritada quando penso nisso.

A pessoa é contrata para lavar louça, nunca fez curso nenhum, nunca trabalhou numa cozinha antes e quer vir dar sugestão? Mas faça-me o favor.

Na hora contei até mil para não agir que nem uma maluca, mas fiquei p..da vida!

Pensei comigo "sabe quanto tempo eu levei pra sugerir alguma coisa?"

Enfim, esse foi o início da "guerra" que se travou na semana seguinte. As tentativas de interferência dele foram aumentando, e a minha (quase inexistente) paciência foi diminuindo. Tudo terminou um sábado depois, quando eu quase "meti a mão" na cara dele e ele foi demitido.

Que feio! Eu sei e me arrependo por ter me deixado enlouquecer completamente dentro da cozinha. Aprendi com isso e tenha certeza que nunca mais vai acontecer.

Agora, quando chega alguém novo, sem experiência e querendo dar pitaco, eu já corto de cara..e digo: tudo ao seu tempo!


sábado, 16 de janeiro de 2010

Fondue, Raclette e Bouchon


Gente, que preguiçosa que eu tava..fiquei vários dias me enrolando pra escrever sobre a segunda parte da nossa viagem..aliás, a parte mais gastronomicamente deliciosa.

Então...Depois de Genebra fomos pra Chamonix, uma cidade em MontBlanc, na França. MontBlanc é lindo, é um conjunto de montanhas que faz fronteira com a França, Suíça e Itália. Os esquiadores mais experientes podem se aventurar por todas as montanhas, indo de um lado pro outro só pelos teleféricos...que inveja..se eu fosse tentar esquiar teria que ficar numa montanhazinha de meia tigela..heheh..até perdi a vontade e desisti. Preferi me aventurar pelos restaurantes.

No mesmo dia que chegamos comemos um founde de queijo MARAVILHOSO, mega tradicional..delícia. Depois um mousse de cholocate gigante...

Em Annecy, não foi diferente. A cidade é um amor, com uma parte bem antiga..um charme. Tem um canal no meio e ao redor desse canal, vários restaurantes com menus tentadores. Todos com o que eles chamam de "formules", ou seja: entrada+principal+sobremesa por um precinho camarada. E aí eles tem " formules de 19,00 euros, de 22,00 euros e por aí vai..a nossa (minha) diversão era andar de um lado pro outro, olhando todos os cardápios antes de decidirmos onde iríamos comer. Annecy é na França, mas como fica muito perto da Suíça os pratos típicos deste país são predominantes. Foi lá que comemos raclette.


"A raclette (no feminino) é um prato típico, à base do queijo homônimo. Na sua preparação, o queijo é aquecido e raspado sobre os pratos dos comensais. O termo deriva do francês racler, que significa raspar. Vários acompanhamentos podem ser utilizados, como por exemplo a batata inglesa, o pickles e embutidos como presunto cru, lombo defumado, salame, copa, etc."


Na verdade o Adriano que pediu a raclette. Eu pedi a tartiflette, que é um prato não menos delicioso, de origem francesa, que é feito com batatas, queijo, bacon e creme...mega calórico, eu sei, mas como vocês sabem fazia parte da minha experiência gastronômica..tudo em prol do conhecimento, hehehe.


Nossa última parada, Lyon, como já escrevi antes, foi o lugar pelo qual me apaixonei. Lá comemos comida muito boa, muito típica mesmo. Comi steak au poivre, macaron, tart au praline, sopa de cebola com pão e queijo gruyere, profiteroles..e tudo estava uma delícia. Mas um prato teve destaque: Quenelles de brochet. As quenelles de brochet são um prato típico dos Bouchons de Lyon. Os "bouchons", por sua vez, são restaurantes que servem uma comida tradicional da cidade. São o avesso da alta-gastronomia e procuram criar um ambiente aconchegante e uma relação mais próximas entre as pessoas que o frequentam e o dono. Talvez se equivalem ao que os italianos chamam de "cantina".

Antes de viajar, o meu chefe (que morou muitos anos na França) disse que se eu fosse a Lyon deveria ir a um Bouchon e provar as "quenelles". Claro que eu não ia perder a oportunidade de provar uma das comida mais típicas dessa cidade que é o berço da gastronomia francesa. Então, na noite do dia 31 de dezembro saímos em busca das quenelles. Encontrei-as em quase todos os menus dos bouchons, ao lado das salsichas e sopa de cebola. Por fim, escolhemos um dos restaurantes e o jantar foi maravilhoso. As quenelles de brochet são feitas com uma massa cremosa de peixe (brochet), creme, farinha e ovos. Elas são moldadas no formato de quenelles e cozidas numa panela com água (poached). Depois se faz um molho com caldo de caranguejo ou lagosta e se coloca no forno para gratinar.

Olha, não vou dizer que amei as quenelles...achei gostoso, nada de muito espetacular. Mas amei ter tido a oportunidade de me aproximar um pouco mais das origens daquilo que amo tanto.

Agora, estou de volta ao trabalho e alguns desafios me esperam pela frente. Hoje mesmo tenho que parar pra pensar em alguns menus para eventos que teremos em fevereiro. Mas são desafios bons, coisas que me motivam cada vez mais!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Comer bem é o melhor remédio.




E eu disse comer BEM, não comer MUITO..se bem que quando a comida é boa, ou variada, fica difícil manter a linha. Eu que o diga nessa nossa viagem! Mas, pra me abster de tamanha culpa, eu prefiro dizer que fiz tudo em prol do meu trabalho. Que todo o sacrifício não foi mais do que pesquisa de campo. Sacrifício vai ser agora, pra perder tudo o que essas experiências gastronômicas "me proporcinaram". Mas, valeu a pena..valeu muito a pena. Nessa viagem, vi, provei e provei de novo muitas das coisas que eu tinha aprendido quando fiz meu curso..e coisas que já tinha ouvido falar, mas que nunca havia visto ou provado. Coisas clássicas, de cozinha tradicional, local..muito bom, muita inspiração e aprendizado.


Inicialmente, ficamos 3 dias em Genebra. A cidade é legal, mas eu esperava muito mais, afinal, da Suíça sempre se espera montanhas linhas, neve, lagos...é claro que tem tudo isso, mas não em todos os cantos, como imaginamos. Chegamos na véspera de Natal. A cidade estava com aquele ar de "tudo fechando ao mesmo tempo as cinco da tarde". Quando saímos para jantar não encontramos nada aberto. Eu já estava começando a imaginar que passaríamos a noite num desses kebab´s da vida, quando pegamos um ônibus qualquer e descemos numa parada qualquer (pq o bus já tava indo pro meio do nada) e na esquina vimos um restaurante aberto. Tava todo iluminado, decorado pro Natal. Nem pensamos duas vezes, entramos restaurante a dentro sem nem olhar preço e cardápio.


Pra nossa sorte, foi uma das melhores refeições que fizemos durante a viagem. Tudo super bem feito e tudo delicioso. A entrada foi um carpacio de salmão defumado com alcaparras. Até o Adriano que não é muito chegado nessas coisas, adorou..disse: " que peixe bommm"..o que a fome não faz nas pessoas, hehehe... depois do salmão, veio um fettucine caseiro com camarão e um molho delicioso de nata. Pra limpar o paladar, depois da massa, nos foi servido um sorbet de limão (uma generosa bola) dentro de uma taça com um licor, que eu não identifiquei qual era, mas me pareceu Grand Manier. A seguir veio o prato principal: entrecot com um molho madeira com cogumelos morel...hummm, que delícia. A carne perfeitamente grelhada, no ponto..acompanha por batatinhas crocantes e vagens francesas. Uma delícia. No final, como eu tava esperando uma sobremesa à altura de tudo que havíamos comido, o tal "buch de Noel " (um tipo de rocambole) que nos serviram, deixou a desejar..ou talvez eu é que já tivesse comido demais mesmo.

Enfim, saí de lá feliz da vida, me sentindo plenamente satisfeita na véspera de Natal que a princípio nos fez achar que comeríamos o tão temido "kebab".

Aliás, o tal kebab foi a nossa janta no dia seguinte, quando realmente tudo estava fechado e não nos restou outra opção! e foi triste, uma experiência nada agradável. Ainda mais porque eu não entendi o inglês do francês (árabe, turco..não sei) quando este perguntou se eu queria "hot sauce"..como era vermelho, preferi adivinhar que era tomato sauce e me ferrei...ou melhor, nos ferramos...o Adriano, coitado, suava como se estivesse correndo uma maratona. Saímos de lá com sede e mal humorados...e prometendo que nunca mais entraríamos num "Kebab da vida".

De Genebra, as experiências gastronômicas seguem para Chamonix - Mont Blanc...uma cidadezinha linda que fica na França, mas que faz fronteira com a Suiça, e Itália...mas isso é assunto para um próximo capítulo!!!
P.S. Sorry, mas não aguentei e tive que comer um pedacinho da carne e da batata antes de tirar a foto!!!