terça-feira, 8 de novembro de 2011

O que eu quero ser quando crescer



Faz um bom tempo que eu penso que é hora de voltar com força total e paixao total ao meu trabalho. Aquele sentimento todo que eu sentia e aquela empolgaçao me fazem falta. Acontece que eu sou uma pessoa passional, e um pouco obssecada, que dificilmente ama loucamente duas coisas (ou pessoas) ao mesmo tempo. Sim, é claro que amo varias pessoas ao mesmo tempo..minha mae, meus irmaos, minha familia toda...meu namorado, amigas e por ai vai...mas estou falando "daquela coisa", sabe? Aquela coisa que toma conta de ti, dos teus pensamentos, da tu cabeça... Enfim, acho que "aquela coisa" pelo meu trabalho ja passou, e nao vai mais voltar...A minha paixao e obssessao (para ser menos patologica talvez deveria dizer objetivo) agora sao outros. Talvez eu precise me acostumar a simplesmente amar tranquilamente e valorizar a minha profissao, que me sustenta e que tem me possibilitado viajar e conhecer o mundo.
E eu nao estou me lamentando, pelo contrario, estou bem feliz. Acabei de vivenciar dois otimos meses de trabalho aqui em Torino. Logo depois que voltei das férias, comecei a trabalhar num "restaurantezinho" muito simpatico, o Santa Margo, fazendo "aperitivo", de segunda a sexta, com um horario quase de gente normal. Digo restaurantezinho porque nao chega a ser um restaurante, é tipo um bar/café/pub.
E, aqui na Italia, o tal do "aperitivo" funciona assim: o cliente paga, digamos
6-7 euros, por um drink e varios petiscos..os petiscos variam de bruschetta, pizza, polpetinhas a massas, verduras grilhadas e, em alguns lugares, até carne.
Hoje é meu ultimo dia trabalhando ali e nesses dois meses eu pude me divertir bastante...fiz aquilo que eu gosto de fazer: criei, inventei, provei, misturei e enchi o Santa Margo de receitas da vovò (mas da vovò brasileira). Incrivel ver como eles adoraram a minha "pizza rapida"..um salgado que eu faço desde pequena e que talvez seja umas das receitas mais faceis e rapidas...a torta de banana da Dona Lourdes (minha "vòdrasta") faz sucesso por onde passa..pao de queijo entao, nem se fala... fui feliz trabalhando ali naquele restaurante pequeninho como nao consegui ser em nenhum momento dos 4 meses que trabalhei naquele hotel (que até hoje, so de pensar, me da calafrios)...
E tudo isso me fez pensar mais uma vez: o que eu quero ser quando crescer?
Amo o que faço e sou muito feliz quando trabalho em um lugar que me proporciona a liberdade que eu preciso. Mas amo também viver fora da cozinha...preciso do meu tempo livre (sem estar morta de cansada). Preciso, sei la, de alguma noite livre na semana para jantar com o meu namorado, para ver um filme ou nao fazer nada, mas preciso desse tempo. Sem isso nao consigo curtir as horas que passo dentro da cozinha. Sem isso, conto cada segunda para ir embora e odeio cada cliente que entra porta a dentro.
Umas semanas atras eu fiz uma entrevista via skype, para trabalhar como sub-chef do restaurante italiano de um super hotel de Pequim (mas SUPER mesmo). Na entrevista eles ja me alertaram que se trabalhava em média 12 horas por dia e que eu poderia ir pra casa so quando terminasse o que tinha pra fazer.... e detalhe, para nao-chineses eles nao pagavam hora extra. Nao fui a escolhida para o cargo, mas enquanto ainda falava com a moça que estava me entrevistando, eu ja tinha decidido: eu nao queria ser a sub-chef daquele lugar.
Ao longo desses poucos 4 anos de profissao eu ja percebi que, pra mim, mais vale uma cozinha com um fogaozinho de 4 bocas onde posso viver feliz do que uma cozinha cheia de equipamentos de ponta, mas que me oprime.
E assim eu chego na minha conclusao: eu nao vou ser nada mais do que sou agora quando crescer. Nao vou ser uma super chef conhecida ou estrelada (nao que eu me importe). Nao vou ganhar rios de dinheiro nem o premio de chef do ano, nao vou aparecer na tv nem dar entrevistas...mas vou viver e vou ser feliz, dentro e fora da cozinha.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Hora de retomar as "panelas" da situação

Oi...vocês podem não acreditar, mas ainda estou por aqui..depois de bons meses fora do ar resolvi tomar vergonha na cara e atualizar esse pobre blog abandonado.
As razões poderiam ser muitas, e na verdade elas existem, mas só uma delas é responsável pelo meu afastamento: a minha paixão ainda está de férias...a minha paixão pelo meu trabalho.
Um ano se passou desde que muita coisa mudou na minha vida e tirou a minha cabeça dos eixos, agora não dá mais pra adiar..é hora de voltar.
Claro que durante esse ano nunca fiquei sem trabalhar, mas nunca mais trabalhei com aquele amor..aquela paixão, de olhar para um prato novo como para quem olha para a sua própria "cria"..nunca mais trabalhei sem ficar olhando o relógio, contando as horas para ir embora. Nunca mais senti aquilo que sentia e que me fazia tão feliz.
Trabalhei na Itália por 4 meses, num hotel 4 estrelas super legal e bem equipado onde tínhamos cinco câmeras frias e duas de congelamento para armazenar alimentos diversos. Tínhamos uma máquina para fechamento à vácuo muito moderno e fornos de última geração. Eu trabalhava como chef de partida das carnes e como saucier. A minha bancada era só minha, a minha geladeira só minha e MEU fogão tinha 6 chapas só para mim..e tudo funcionava perfeitamente bem. Ou seja, tudo que eu sempre sonhei em ter quando trabalhava na minha cozinha de 20m² em Londres, eu tinha ali em Turim, mas tudo que eu conseguia sentir era vontade de ir embora.
Talvez a explicação seja a carga excessiva de horas de trabalho..talvez o fato de eu estar ali o dia todo, me fazia sentir vontade de nunca estar.
Mas não era só isso. O trabalho em si também não me motivava!
Passar os dias a fazer "ragù" não é bem o que eu sonhei pra mim...Mas ali, o que mais me "matava" era a impossibilidade de criar..a impossibilidade de mostrar qualquer coisa que eu houvesse aprendido antes..até porque quase tudo que eu aprendi antes não "estava de acordo" com as leis universais daquela cozinha.
Mas enfim, o perído no hotel já ficou pra trás. A minha vida já está retornando aos eixos (pelo menos assim eu espero) e uma nova aventura deve iniciar em outubro: estamos indo morar em Pequim, na China. Lá, eu preciso voltar a me dedicar e a viver de verdade o meu trabalho..preciso me deixar envolver e me apaixonar de novo...e preciso conseguir!
Já andei olhando alguns sites de restaurantes internacionais da cidade e me parece que tem um bom mercado para chefs de outros países. Por exemplo tem o SALT http://www.saltrestaurantbeijing.com, onde a chef é uma menina (não sei quantos anos ela tem, mas parece ser mais nova do que eu) venezuelana. O restaurante é um dos mais bem conceituados de Pequim e a Chef já recebeu diversos prêmios. Tem também o Casa Brasil http://www.casabrasil.cn/ ,que é um restaurante brasileiro, mas não como aqueles que vemos sempre no exterior, com aquele "menuzinho" básico de feijoada, moqueca e aipim frito..pelas fotos o Casa Brasil parece ser um lugar que tem tudo isso e muito mais. O dono é de Taiwan mas viveu no Brasil por muitos anos e o chef e um brasileiro. Outro muito bem recomendado é o Alameda, mas esse (não sei porque) não tem site.
A perspectiva é boa e daqui algumas semanas já começo a mandar alguns currículos...depois disso é só cruzar os dedos e começar a bater perna pela capital chinesa.
Um beijo e até breve, espero!

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Verdades universais da cozinha

Ando mais uma vez sumida, eu sei. Mas dessa vez eu tenho como explicar: estou trabalhando num hotel 4 estrelas aqui em Torino e trabalho simplesmente o dia inteiro. Entro as 9 da manha. As 15h tenho um intervalo. Retorno às 18:30 e vou embora quase 11 da noite. Esta foi a minha quarta semana e desde que comecei a trabalhar nao faço nada a nao ser dormir, trabalhar e pedalar nas indas e vindas para casa. Ja chorei, ja quebrei coisas, ja briguei com meu namorado. Ja pensei mais de mil vezes em largar o trabalho e depois mudei de ideia. Realmente é dificil. Nao sobra tempo pra viver, mas enfim, é o que tenho para o momento. Decici resistir até o fim de junho, guardar uma grana para ter tempo de procurar algo "melhor". Dito isso, vamos ao assunto de hoje.
Quando fiz meu curso, aprendi técnicas de cozinha. Aprendi os cortes classicos, os pontos de cozimento de uma carne. Aprendi a limpar peixe e a fazer molhos e fundos. Aprendi tudo isso (e mais um milhao de outras coisas) como sendo o certo: aquilo que "se faz" por toda a parte.
Verdade?
Nao! Mentira.
A verdade é que cada chef tem "suas proprias verdades" e cada cozinha tem as suas leis.
O que para um é regra, para outro é um absurdo.
Ha que lave o peixe todos os dias, ha quem nem ao menos o congele. Ha quem o congela, descongela e depois congela de novo.
Tem aquele que enrola o queijo em filme plastico e tem o que ensina a colocar o filme plastico sobre o molho bechamel para nao fazer "crosta". O que enrola o queijo, condena colocar o plastico sobre o molho, e tem um terceiro, que tem "arranca o pescoço" se tu nao enrolar o queijo primeiro com papel de forno.
E quando se chega numa cozinha nvoa essa é a maior dificuldade (pelo menos para mim): conhecer as "verdades" do meu novo chef.
Como agir com autonomia e segurança se tudo que se foi aprendido pode estar errado?
Como usar meus conhecimentos se para o outro eles estao equivocados?
Descobri que, segundo meu novo chef, nem afiar uma faca eu sei!
Mas enfim, aos poucos vou descobrindo as verdades universais dessa cozinha.
Aos poucos também vou conhecendo a cozinha em si: qual a chapa do fogao que é torta, qual parte da grilha esquenta mais, qual frigideira é mais leve e quanto tempo demora para aquecer e esfriar. Aos poucos vou me sentindo mais em casa e inicio a sentir que "essa" parte da cozinha me pertence.
Mas acredito que por aqui nao fico por muito tempo. Até porque meu chef usa alface e frutas esculpidas para decorar os pratos de canapés!!!
Un bacio, ciao!!!