terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Tudo ao seu tempo


Na cozinha, paciência é uma virtude. Claro, não só na cozinha. Na vida! Mas falo da cozinha pois é dentro dela que mais aprendo.

Por mais que tenhamos vontade, por mais que tenhamos energia e "sede" daquilo tudo...mesmo assim, temos que esperar a nossa vez. Para alguns a espera não é grande, mas se a espera não foi grande, é porque o trabalho foi intenso. Sorte? Talvez... É bom estar no lugar certo, na hora certa..mas nada disso adianta se não fizermos "a coisa certa". E dentro da cozinha, no início, a coisa certa é ralar, ralar, ouvir, ralar mais um pouco, ouvir muito e limpar muita geladeira. Até que um dia, algum (ou muito) tempo depois, alguém vai te pedir um palpite, uma idéia para um cardápio, uma sugestão do dia.

Claro, isso tudo depende do chef e do tamanho da cozinha. Eu tive a sorte de trabalhar em cozinhas pequenas e com chefs maravilhosos que sempre me deram a oportunidade de "abrir a boca". Obviamente isso não veio de graça. Nada vem de graça, tudo se conquista. Mas mesmo assim, mesmo sabendo que eu não estava trabalhando com "ditadores", eu esperei.

Esperei o momento certo, respeitei, ouvi e só comecei a falar a partir do momento que alguém perguntou a minha opinião. A partir do momento que eu percebi que já era merecedora daquilo tudo. Também nunca dei uma opinião baseada em nada. Sempre li, pesquisei e busquei (e continuo buscando) aprender mais e mais. Aprender é o que há de melhor e é uma das coisas que mais me motiva no dia-a-dia.

Mas to escrevendo tudo isso por causa de algo que aconteceu uns meses atrás. Agora, que a ira já foi embora, consigo enxergar as coisas mais claramente e mesmo assim, eu acho que estava certa.

Pra resumir a história...contratamos para a cozinha um "kp" (kitchen porter = pessoa que lava a louça). Quando ele veio para a entrevista, disse que adorava cozinhar, que era apaixonado por gastronomia e tal. Isso pareceu um ponto positivo, pois é sempre melhor trabalhar com pessoas que gostam ou tem interesse naquilo que estão fazendo.

No primeiro dia tudo correu tranquilamente. De vez em quando ele fazia algumas perguntas: "como isso era feito", "que gosto tinha aquilo", "me passa a receita daquele outro". Um pouco inconveniente em certos momentos, mas nada grave, afinal ele já tinha dito que adorava comida..enfim, o rapaz estava "empolgado" de estar dentro de uma cozinha..tudo bem, tolerável.

Pra completar, a "figura" era brasileiro, então, no segundo ou terceiro dia ele já começou a "sugerir" que eu fizesse tal e tal doce "da terrinha" ...Não sou muito favorável a sugestões de quem acabou de chegar, mas tudo bem..dei um desconto, afinal ele só estava querendo "ajudar". Até que, no domingo seguinte (com menos de uma semana de trabalho), o cara chega todo faceiro pra mim e lança a seguinte frase: Oi Camila, tudo bem? Tenho algumas sugestões pra tu colocar nos especiais de hoje a noite!

Que? Sorry...Excuse me...Como assim? Até hoje fico meio irritada quando penso nisso.

A pessoa é contrata para lavar louça, nunca fez curso nenhum, nunca trabalhou numa cozinha antes e quer vir dar sugestão? Mas faça-me o favor.

Na hora contei até mil para não agir que nem uma maluca, mas fiquei p..da vida!

Pensei comigo "sabe quanto tempo eu levei pra sugerir alguma coisa?"

Enfim, esse foi o início da "guerra" que se travou na semana seguinte. As tentativas de interferência dele foram aumentando, e a minha (quase inexistente) paciência foi diminuindo. Tudo terminou um sábado depois, quando eu quase "meti a mão" na cara dele e ele foi demitido.

Que feio! Eu sei e me arrependo por ter me deixado enlouquecer completamente dentro da cozinha. Aprendi com isso e tenha certeza que nunca mais vai acontecer.

Agora, quando chega alguém novo, sem experiência e querendo dar pitaco, eu já corto de cara..e digo: tudo ao seu tempo!


sábado, 16 de janeiro de 2010

Fondue, Raclette e Bouchon


Gente, que preguiçosa que eu tava..fiquei vários dias me enrolando pra escrever sobre a segunda parte da nossa viagem..aliás, a parte mais gastronomicamente deliciosa.

Então...Depois de Genebra fomos pra Chamonix, uma cidade em MontBlanc, na França. MontBlanc é lindo, é um conjunto de montanhas que faz fronteira com a França, Suíça e Itália. Os esquiadores mais experientes podem se aventurar por todas as montanhas, indo de um lado pro outro só pelos teleféricos...que inveja..se eu fosse tentar esquiar teria que ficar numa montanhazinha de meia tigela..heheh..até perdi a vontade e desisti. Preferi me aventurar pelos restaurantes.

No mesmo dia que chegamos comemos um founde de queijo MARAVILHOSO, mega tradicional..delícia. Depois um mousse de cholocate gigante...

Em Annecy, não foi diferente. A cidade é um amor, com uma parte bem antiga..um charme. Tem um canal no meio e ao redor desse canal, vários restaurantes com menus tentadores. Todos com o que eles chamam de "formules", ou seja: entrada+principal+sobremesa por um precinho camarada. E aí eles tem " formules de 19,00 euros, de 22,00 euros e por aí vai..a nossa (minha) diversão era andar de um lado pro outro, olhando todos os cardápios antes de decidirmos onde iríamos comer. Annecy é na França, mas como fica muito perto da Suíça os pratos típicos deste país são predominantes. Foi lá que comemos raclette.


"A raclette (no feminino) é um prato típico, à base do queijo homônimo. Na sua preparação, o queijo é aquecido e raspado sobre os pratos dos comensais. O termo deriva do francês racler, que significa raspar. Vários acompanhamentos podem ser utilizados, como por exemplo a batata inglesa, o pickles e embutidos como presunto cru, lombo defumado, salame, copa, etc."


Na verdade o Adriano que pediu a raclette. Eu pedi a tartiflette, que é um prato não menos delicioso, de origem francesa, que é feito com batatas, queijo, bacon e creme...mega calórico, eu sei, mas como vocês sabem fazia parte da minha experiência gastronômica..tudo em prol do conhecimento, hehehe.


Nossa última parada, Lyon, como já escrevi antes, foi o lugar pelo qual me apaixonei. Lá comemos comida muito boa, muito típica mesmo. Comi steak au poivre, macaron, tart au praline, sopa de cebola com pão e queijo gruyere, profiteroles..e tudo estava uma delícia. Mas um prato teve destaque: Quenelles de brochet. As quenelles de brochet são um prato típico dos Bouchons de Lyon. Os "bouchons", por sua vez, são restaurantes que servem uma comida tradicional da cidade. São o avesso da alta-gastronomia e procuram criar um ambiente aconchegante e uma relação mais próximas entre as pessoas que o frequentam e o dono. Talvez se equivalem ao que os italianos chamam de "cantina".

Antes de viajar, o meu chefe (que morou muitos anos na França) disse que se eu fosse a Lyon deveria ir a um Bouchon e provar as "quenelles". Claro que eu não ia perder a oportunidade de provar uma das comida mais típicas dessa cidade que é o berço da gastronomia francesa. Então, na noite do dia 31 de dezembro saímos em busca das quenelles. Encontrei-as em quase todos os menus dos bouchons, ao lado das salsichas e sopa de cebola. Por fim, escolhemos um dos restaurantes e o jantar foi maravilhoso. As quenelles de brochet são feitas com uma massa cremosa de peixe (brochet), creme, farinha e ovos. Elas são moldadas no formato de quenelles e cozidas numa panela com água (poached). Depois se faz um molho com caldo de caranguejo ou lagosta e se coloca no forno para gratinar.

Olha, não vou dizer que amei as quenelles...achei gostoso, nada de muito espetacular. Mas amei ter tido a oportunidade de me aproximar um pouco mais das origens daquilo que amo tanto.

Agora, estou de volta ao trabalho e alguns desafios me esperam pela frente. Hoje mesmo tenho que parar pra pensar em alguns menus para eventos que teremos em fevereiro. Mas são desafios bons, coisas que me motivam cada vez mais!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Comer bem é o melhor remédio.




E eu disse comer BEM, não comer MUITO..se bem que quando a comida é boa, ou variada, fica difícil manter a linha. Eu que o diga nessa nossa viagem! Mas, pra me abster de tamanha culpa, eu prefiro dizer que fiz tudo em prol do meu trabalho. Que todo o sacrifício não foi mais do que pesquisa de campo. Sacrifício vai ser agora, pra perder tudo o que essas experiências gastronômicas "me proporcinaram". Mas, valeu a pena..valeu muito a pena. Nessa viagem, vi, provei e provei de novo muitas das coisas que eu tinha aprendido quando fiz meu curso..e coisas que já tinha ouvido falar, mas que nunca havia visto ou provado. Coisas clássicas, de cozinha tradicional, local..muito bom, muita inspiração e aprendizado.


Inicialmente, ficamos 3 dias em Genebra. A cidade é legal, mas eu esperava muito mais, afinal, da Suíça sempre se espera montanhas linhas, neve, lagos...é claro que tem tudo isso, mas não em todos os cantos, como imaginamos. Chegamos na véspera de Natal. A cidade estava com aquele ar de "tudo fechando ao mesmo tempo as cinco da tarde". Quando saímos para jantar não encontramos nada aberto. Eu já estava começando a imaginar que passaríamos a noite num desses kebab´s da vida, quando pegamos um ônibus qualquer e descemos numa parada qualquer (pq o bus já tava indo pro meio do nada) e na esquina vimos um restaurante aberto. Tava todo iluminado, decorado pro Natal. Nem pensamos duas vezes, entramos restaurante a dentro sem nem olhar preço e cardápio.


Pra nossa sorte, foi uma das melhores refeições que fizemos durante a viagem. Tudo super bem feito e tudo delicioso. A entrada foi um carpacio de salmão defumado com alcaparras. Até o Adriano que não é muito chegado nessas coisas, adorou..disse: " que peixe bommm"..o que a fome não faz nas pessoas, hehehe... depois do salmão, veio um fettucine caseiro com camarão e um molho delicioso de nata. Pra limpar o paladar, depois da massa, nos foi servido um sorbet de limão (uma generosa bola) dentro de uma taça com um licor, que eu não identifiquei qual era, mas me pareceu Grand Manier. A seguir veio o prato principal: entrecot com um molho madeira com cogumelos morel...hummm, que delícia. A carne perfeitamente grelhada, no ponto..acompanha por batatinhas crocantes e vagens francesas. Uma delícia. No final, como eu tava esperando uma sobremesa à altura de tudo que havíamos comido, o tal "buch de Noel " (um tipo de rocambole) que nos serviram, deixou a desejar..ou talvez eu é que já tivesse comido demais mesmo.

Enfim, saí de lá feliz da vida, me sentindo plenamente satisfeita na véspera de Natal que a princípio nos fez achar que comeríamos o tão temido "kebab".

Aliás, o tal kebab foi a nossa janta no dia seguinte, quando realmente tudo estava fechado e não nos restou outra opção! e foi triste, uma experiência nada agradável. Ainda mais porque eu não entendi o inglês do francês (árabe, turco..não sei) quando este perguntou se eu queria "hot sauce"..como era vermelho, preferi adivinhar que era tomato sauce e me ferrei...ou melhor, nos ferramos...o Adriano, coitado, suava como se estivesse correndo uma maratona. Saímos de lá com sede e mal humorados...e prometendo que nunca mais entraríamos num "Kebab da vida".

De Genebra, as experiências gastronômicas seguem para Chamonix - Mont Blanc...uma cidadezinha linda que fica na França, mas que faz fronteira com a Suiça, e Itália...mas isso é assunto para um próximo capítulo!!!
P.S. Sorry, mas não aguentei e tive que comer um pedacinho da carne e da batata antes de tirar a foto!!!