segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

No pain, no gain!

Como contei aqui no meu ultimo post, em janeiro eu começo a trabalhar no SALT, aqui em Pequim.
Pra ja ir pegando o ritmo da cozinha, comecei a "trabalhar" semana passada, junto com o chef o qual irei substituir. Na verdade nao fiz nada e praticamente só observei o trabalho dele, o menu e os outros cozinheiros.


Na quinta, antes do meu primeiro dia que seria na sexta, fomos jantar ali. Mesmo morando perto nunca tínhamos ido, sempre pensando em deixar para um ocasião especial. Eis que a ocasião especial surgiu e eu pensei que seria interessante conhecer o restaurante como cliente antes de comecar a trabalhar ali. Nos decidimos pelo menu degustação onde cada prato era harmonizado com um vinho. Nos pareceu a melhor maneira de conhecer o maior número de pratos possíveis.
Nao vou descrever cada prato aqui, mas posso dizer que foi uma experiência interessante e prazeirosa. As combinações eram excelentes e a apresentação feita de maneira muito delicada. Naquela noite já percebi que o estilo do restaurante era diferente de todos os lugares onde trabalhei até agora.
No dia seguinte fui trabalhar e depois de 6 horas em pé, voltei pra casa verdadeiramente detonada. E não era de cansaço. Indo embora eu só conseguia pensar: não quero mais voltar lá!


Degustar alguns pratos do menu foi uma coisa. Ver como eles eram feitos foi bem diferente. Agora escrevendo (e depois de passado o período de terror interior) sinto até que exagerei um pouco, mas a minha vontade era mesmo de sair correndo dali.
Já trabalhei em restaurantes legais, com chefs mais experientes ou menos experientes. Já fiz menus interessantes e ouvi muitos elogios daqueles que o provaram, mas nunca trabalhei nem tive nenhuma experiência com esse tipo de cozinha.
Não é cozinha molecular, longe disso! Até porque a cozinha é muito humildemente equipada (mais uma prova do quanto trabalha bem o chef atual), mas os detalhes das suas preparações e a quantidade de ingredientes que ele coloca em cada prato, me assustaram.


Espumas, mousses, geleias, reduções, crumbles...cores, texturas e temperaturas diferentes em um único prato. Pensei, porra, mas eu sei fazer isso?
Nao preciso nem dizer que acordei 50 vezes naquela noite e aquele pensamento de insegurança nao saiu de dentro de mim.
No dia seguinte voltei a trabalhar e não foi assim tão terrivel..Fora quando ele me deu pra provar o presunto cru de peito de pato (sim!)feito artesanalmente por eles, até que foi uma manhã tranquila.
De qualquer forma eu continuava me sentindo insegura e incerta do que seria melhor pra mim. Aliado a isso, ou talvez só por isso, comecei a pensar nas horas que teria que passar ali dentro. Sábados livres nunca mais, ao menos enquanto eu estive trabalhando ali. Horas e horas de cozinha com intervalos de algumas horas sozinha em casa. Decididamente não era o que eu queria pra mim.
Quando terminou o serviço e passou a correria, tive tempo pra pensar e enquanto fazia pequenas quenelles de patê de oliva, eu praticamente decidi desistir daquilo tudo. Pensei no quanto seria mais fácil a minha vida se eu simplesmente assumisse o meu momento covarde (e preguiçoso) e escapasse dali pra nunca mais voltar. Porém, pensei também em quanto desiludiria o meu namorado e a minha mãe com essa atitude covarde e até em uma amiga, que tinha feito uma pequena declaração de admiração por mim, um dia antes no facebook. Foi um dos poucos momentos da minha vida em que pensei nas expectativas que outros têm de mim e decidi que nao gostaria de decepcionar ninguém. Principalmente nao a mim mesma.


Nesse momento o chef tinha ido no mercado comprar alguns ingredientes que faltavam e eu fiquei ali sozinha com a equipe. Pouco a pouco aquela angustia foi passando e eu me sentindo melhor. Até feliz de estar ali eu consegui me sentir.
Mentalmente, mudei o roteiro da conversa que eu estava planejando ter com o dona do lugar e decidi só ser muito sincera com ela. Disse a ela que me sinto capacitada pra trabalhar como head chef, controlar a equipe e fazer belos menus, mas que nao tenho a experiência e o conhecimento do chef atual. Ele tem 15 anos de experiencia, eu, apenas 5. Além disso, apesar de ter trabalhado com chefs com quem aprendi muito, eu nunca trabalhei em restaurantes estrelados ou que servem esse tipo de comida.
Ela me confortou dizendo que já sabia e que não esperava que eu fizesse os mesmos menus que ele. Dito isso, avisei também que preciso de dois dias fixos de folga por semana, senão eu surto. Entendido isso, fui pra casa mais tranquila.
Hoje, passado o susto e o momento de pânico, me sinto feliz por não ter desistido de tudo antes de sequer tentar. Depois de incentivos de amigos e de um "chute na bunda" que ganhei da minha mãe, eu me sinto tão "pilhada" quanto me sentia quando comecei na cozinha, 5 anos atrás.


Já comecei a estudar e esse novo leque de possibilidades só me estimula cada vez mais. Grandes chefes pra me inspirar não faltam...Alex Atala, Roberta Sudbrack, Helena Rizzo..só falando de alguns brasileiros!
Nao vai ser fácil, eu sei, mas subir degraus nunca é fácil. Sei, porém, que será uma grande oportunidade de aprender coisas diferentes, de testar e brincar com sabores, cores e texturas. Nao vou ter ninguém pra me ensinar, mas hoje em dia com essa bomba que é a internet, não podemos reclamar de falta de informações.
Sei que vou ficar cansada, que vou ficar estressada, que vou surtar em vários momentos e que vou errar também. Mas é assim que funciona, é assim que se aprende e que se cresce.

Deixo voces com fotos de alguns pratos de grandes chefes, brasileiros ou nao,que me servem de inspiracao nesse momento de desafio.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O fim de um momento e o inicio de outro!

Oi, vim pra dar boas noticias a quem acompanha um pouco a "minha vida dentro e fora da cozinha".
O fim do ano ta chegando (de novo) e mais uma vez ele vem pra mim acompanhado de mudancas. Ano passado tinhamos a recem chegado na China e um mundo de possibilidades estava aberto a nossa frente. Algumas coisas de concretizaram, outras nao, mas no final, foi um ano bom.
Profissionalmente, passei mais tempo esperando do que realizando e mais tempo frustrada do que cansada, mas nao foi tudo em vao. Aproveitei o tempo extra e a fartura de recursos pra provar, testar e praticar muita coisa que eu nunca tinha feito antes.
De uma pessoa que torcia o nariz para a confeitaria, me tornei quase uma apaixonada. Fiz milhoes de cookies e achei a receita perfeita. Fiz cupcakes com recheios e decoracoes diferentes...entrei de cabeca da coisa da pasta americana e depois de algumas tentativas consegui fazer tortas e decoracoes que nunca pensei que teria paciencia pra sequer comecar.
Junto com uma amiga, comecei meu primeiro negocio e depois de 4 meses de trabalho, conseguiremos fechar o ano em alta :-) ..de pouquissimo, claro, mas mesmo assim em alta.
Infelizmente, brincar de laboratorio de doces nao eh suficiente pra mim. Eu preciso de mais..preciso de pessoas comendo o que eu faco e se sentindo felizes por isso. Preciso me sentir importante e necessaria. Se eh ego grande demais eu nao sei. Mas acho que eh normal, nao? Todos queremos sentir que fazemos a diferenca.

Quando ainda estavamos na Italia eu comecei a dar uma pesquisada em alguns restaurantes legais em Beijing, e dentre eles encontrei o SALT. Ate escrevi sobre ele aqui.


O restaurante eh de uma brasileira e naquela epoca a chef era uma venezuelana da minha idade, que tinha ganho a melhor chef de Pequim naquele ano (ou um ano antes). Naquele dia pensei "puta merda, a guria la ganhando premios e eu aqui com trauminha de trabalho". Eu tinha a recem saido do Lingotto e queria mesmo era distancia de qualquer cozinha, mesmo assim decidi que quando chegasse em Pequim, levaria meu curriculo pra eles.

Cheguei aqui e logo fui contratada pra trabalhar no Giorio Casa. A proposta era boa o horario de trabalho era o sonho de qualquer cozinheiro e parecia interessante..aceitei e deixei a ideia do Salt pra la.
Bom, quem le meu blog e meus lamentos :-) sabe que as coisas nao sairam como planejadas e que eu passei quase 1 ano esperando para comecar a trabalhar.

Em agosto desse ano, depois que voltei do Brasil, percebi que a situacao nao mudaria e decidi mandar alguns curriculos. Na verdade mandei 3, um deles pro Salt.
Na epoca nada aconteceu e eu ja tinha ate me esquecido dessa historia quando algumas semanas atras me contataram de la.
Enfim, fui conversar com a dona e Bingo! Comeco em janeiro, head-chef do SALT! Quem quiser dar uma olhadinha o site eh www.saltrestaurantbeijing.com
To muito feliz e entusiasmada porque eh uma oportunidade realmente boa. Apesar do horario puxado resolvi aceitar a proposta. Ja tava na hora de voltar pra correria, pra adrenalida e pra pressao que eu adoro tanto.
E agora volto com tudo! Sem choramingos, sem reclamacoes e sem mimimi por causa do horario. Estarei la eh porque eu quis. Eu escolhi e decidi que queria assim.
Escolhi quando ainda estava na Italia e mais uma vez minha "fada madrinha" me atendeu...
Terceira vez heim..terceira vez que eu "escolho" o lugar onde eu quero trabalhar antes de entrar no aviao. To cada vez mais convencida na forca do pensamento...Ou talvez, como a musica do Teatro Magico: "milagres acontecem quando a gente vai a luta".
De qualquer forma eh uma grande oportunidade e eu vou fazer de tudo para aproveita-la da melhor maneira possivel.
Se eu sumir, nao se preocupem, eh sinal de que retomei `as "panelas" da situacao!

Beijos e ate!
Camila